O especialista em Recursos Humanos Ricardo Xavier certa vez escreveu um artigo intitulado “Os males do pecado número um na carreira”. Dada a grande repercussão e importância do assunto, afinal parece estar mais atual do que nunca, resolvi dar continuidade ao assunto – sempre buscando a reflexão e o aprimoramento.
O primeiro dos sete pecados capitais é a soberba, que se expressa através do orgulho excessivo, da arrogância, da presunção – julgar-se superior. Esse pecado foi colocado em primeiro na lista, pois era considerado como o mais capaz de afastar o homem da felicidade – era tido como o pecado que origina os demais (não é difícil perceber a semelhança da soberba com a vaidade, por exemplo). Desse modo, Ricardo Xavier também considerava a soberba como o pecado número 1 da carreira, interferindo nas ações e decisões do dia a dia de forma desastrosa.
A interferência mais fácil de prever acontece na liderança. O soberbo não sabe ouvir, afinal menospreza seus colegas e subordinados; não sabe delegar, pois além de menosprezar, subestima e, por causa da vaidade, dificilmente compartilhará das metas e dos louros com o grupo. Assim sendo, a equipe responderá com desmotivação e, muito provavelmente, com boicote ou até mesmo com motim.
O soberbo é suscetível a bajulação, a lisonja – trocando em miúdos - aos puxa sacos. Qualquer indivíduo ou ideia que lhe conferir superioridade poderá manipulá-lo - sua embriaguez pode cegá-lo.
Mais difícil de prever, porém não menos importante, está o impacto em seu desenvolvimento. O soberbo acha que sabe mais do que os outros – isso se não achar que já sabe tudo. Ele não consegue reconhecer que pode estar na fase da incompetência inconsciente, fase esta em que não percebemos a necessidade de adquirir uma nova competência.
Ouvir os outros, principalmente aqueles que pensam diferente da gente, é fonte riquíssima de aprendizado, primeiro por nos trazer argumentos e pontos de vista distintos dos nossos, segundo por praticarmos o discernimento e, finalmente, por nos ensinar como extrair bons resultados do poder da diversidade.
Agora, o que a maioria não percebe, é que as nossas conquistas – não menosprezando, nem mesmo desconsiderando o mérito individual – sofrem influência de fatores externos, como mercado e o ambiente. O soberbo, quando não ignora, subestima a conjuntura. A contribuição dos colegas, dos subordinados, dos outros departamentos, dos anos de posicionamento da empresa no mercado, o momento da economia – são condições essenciais para o desempenho de qualquer atividade ou cargo.
E, por melhor que seja o desempenho do indivíduo, ninguém pode ser maior do que a empresa. Assim como nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco, nenhum elo pode ser mais forte do que a corrente. Por mais insubstituível que se possa ser, basta uma mudança na legislação, uma crise econômica do outro lado do mundo ou mesmo um novo aplicativo de smartphone, para que sua soberba seja reduzida à insignificância.
O filósofo Sócrates pode nos ajudar. Sua tão famosa frase “Só sei que nada sei” pode nos servir de guia para não cegarmos com o conhecimento. Na era do conhecimento e da informação rápida, fluída e perecível, admitir ignorância é virtude. Como posso julgar conhecer algo que não para de se transformar? Mas, para acabar mesmo com qualquer arrogância em relação ao conhecimento, Cora Coralina nos presenteou com a singela frase: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida dos humildes”.
A “vida dos humildes” me remete à simplicidade - outro ponto de destaque na cura. O simples é o que tem maior probabilidade de funcionar. O computador era complicado - precisava de códigos para acessar, depois do Windows ele se tornou simples. Ser simples é ser objetivo e prático, sem tempo para massagear o ego. Levar uma vida simples é levar uma vida leve, sem grandes luxos – a vaidade e a soberba complicam a vida, pois incuti preocupações desnecessárias em relação à opinião e julgamento dos outros.
Mas a essência da cura reside no ego. O ego, digno de nossa consideração - pois é o responsável por nossa preservação - quando assume o controle nos torna hedonistas, vaidosos, orgulhosos e soberbos. Aprender a dominá-lo é condição essencial para evitar a soberba. É colocá-lo a serviço dos outros - da empresa, da comunidade, da família. Afinal, quando a sociedade está bem, a preocupação com a preservação do indivíduo diminui.
Fonte - olhardigital.uol.com.br